Desenvolvimento cognitivo dos 7 aos 11 anos

Olá a todos!
Esperamos que estejam bem!

O tema dos artigos do mês de fevereiro será sobre uma segunda fase da infância (ou terceira, dependendo do autor), que vai dos 7 aos 11 anos, e também abordaremos os vários aspetos do desenvolvimento desse período: o cognitivo, emocional, a aprendizagem, motor, entre outros.


Vamos iniciar o mês de fevereiro explorando o desenvolvimento cognitivo dos 7 aos 11 anos. Preparados?

Neste período da infância temos a entrada na escola (ensino básico) e, consequentemente, o início da alfabetização até o começo da adolescência, sendo também uma fase na qual ocorrem grandes transformações. No artigo de hoje adotaremos o tema sob as perspetivas de Jean Piaget e da neuropsicologia, duas abordagens que acreditamos ser um bocadinho familiares aos leitores.


Piaget descobriu que o desenvolvimento da criança pode ser dividido em estágios mais ou menos delimitados, de forma que um estágio anuncia o posterior. Os estágios seguem uma ordem fixa de desenvolvimento, mas as pessoas passam por eles em velocidades diferentes. Segundo o autor, é no estágio operatório concreto (de 7 a 11 anos), que se inicia o desenvolvimento de operações mentais como adição, subtração e inclusão de classes. Nesta fase há um grande salto em termos qualitativos, a criança em idade escolar apresenta uma capacidade de raciocinar sobre o mundo de uma forma mais lógica e adulta, embora adquira a habilidade de realizar essas operações apenas no concreto, ou seja, vendo, pegando e experimentando.


Especialmente no início deste estágio, é imprescindível que as aprendizagens contemplem oportunidades de contar, comparar, analisar, experimentar e rever. Uma estratégia interessante é unificar áreas para otimizar o aprendizado, isto é, ao trabalhar um tema que pode ser específico de qualquer área, deve-se utilizar o olhar das outras áreas do conhecimento.

Ou seja, um mesmo tema pode ser trabalhado em Ciências, em Língua Portuguesa, ou em Matemática. Estruturar o ensino formal, e mesmo os assuntos a serem tratados em ambiente familiar, dessa maneira, sob diferentes perspetivas, vai ao encontro do modo como o funcionamento cognitivo da criança se desenvolve nesse período (de organizar, de classificar e categorizar), o que facilitará o seu interesse, engajamento e compreensão do assunto.

pensive girl studying math lesson at home
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Já ao final desse período, quando se aproxima a adolescência, há um leque de comportamentos que deverá estar no repertório comportamental da maioria das crianças. Entre eles, estão:

  • pensamento espacial (calcular distâncias, saber ir e voltar da escola, calcular o tempo de ir e vir de algum lugar, decifrar mapas);
  • noção de causa e efeito (saber que atributos afetam um resultado);
  • classificação e seriação (organiza objetos em categorias, em classes e subclasses);
  • raciocínio indutivo (parte de fatos específicos, particulares, para conclusões gerais);
  • noção de conservação (a quantidade é a mesma independente da forma);
  • habilidade para lidar com números, solucionando problemas matemáticos envolvendo as quatro operações.

Estas habilidades cognitivas irão permitir o desenvolvimento de comportamentos mais “adultos”, isto é, mais autónomos, este processo é gradual, mas o ambiente deve permitir oportunidades/situações para que isso aconteça. Embora a criança possa ter os recursos cognitivos disponíveis (ter o potencial), ela precisa experimentar, “treinar” esses recursos na vida, na sua rotina, através de situações que lhe exijam essas habilidades mentais. Só assim é que o mental poderá se transformar em “real” (em comportamento) e ser utilizado quando as exigências da vida o exigirem. Os adultos têm um papel significativo para a criança (pais, avós, professores) ou pares (irmãos, primos, colegas de escola), são os que auxiliam a criança a dirigir e organizar a sua aprendizagem até que ela a cristalize e a torne parte do seu repertório de comportamentos.

Considerando a neuropsicologia, à medida que avançam pela idade escolar, as crianças fazem progressos constantes nas habilidades de processar e reter informações. Há um maior amadurecimento das três principais funções executivas, como a memória de trabalho (capacidade de reter informações na memória de curto prazo e manipulá-las até concluir uma tarefa), o controlo inibitório (inibir distrações para focar no que é relevante e inibir ações desnecessárias no momento) e a flexibilidade cognitiva (capacidade de ajustar pensamento e ações de acordo com as exigências do meio, de alternar entre tarefas), possibilitando a aprendizagem e o manejo de temas e situações mais complexos.

Esse amadurecimento cognitivo possibilita que a criança compreenda como a sua memória funciona e desenvolva estratégias para utilizá-la (flexibilidade). Elas desenvolvem a capacidade de atenção concentrada e seletiva, focalizando no relevante e desconsiderando o irrelevante da informação ou no ambiente (controlo inibitório). O adulto deve auxiliar a criança, incentivando-a a aprender, seja em ambiente escolar ou doméstico, a desenvolver estratégias para resolver eventuais problemas, como reler trechos difíceis, ler uma frase de cada vez e descodificá-la, pensar em exemplos. Essa forma de incentivar impulsionará as funções executivas, como a flexibilidade, pois à criança é solicitado que encontre outras formas de olhar/lidar com o problema, assim como ajudará a controlar ações impulsivas ou pouco reflexivas (controlo inibitório).


Temos ainda mais duas habilidades executivas como a organização e planeamento, também essenciais para o bom desempenho das atividades quotidianas, nesta fase, as crianças estão num período de intenso amadurecimento e, assim como as três primeiras habilidades que abordamos acima, essas também serão muito dependentes dos estímulos/oportunidades ofertados pelo ambiente. Na sua rotina diária, seja doméstica e/ou escolar, a criança deve encontrar bons modelos de planeamento, organização e ser exigida nessas habilidades.
Então, como podemos verificar, é neste período da infância que se inicia o desenvolvimento de capacidades cognitivas e comportamentais mais parecidas com as do adulto. No período seguinte, da adolescência, essa semelhança intensificara-se.

Um grande abraço e boa leitura!


Este artigo é da autoria da nossa querida convidada: Viviane Balero Landis – psicóloga e neuropsicóloga (vivianebaleronp@gmail.com). Descobre mais sobre ela em: https://www.instagram.com/viviane.landis/?hl=pt 😉

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