Teoria da Mente na Perturbação do Espectro Autista

Olá, a todos! Hoje encerraremos a abordagem sobre o PEA trazendo um aspeto bem importante dessa perturbação e que talvez poucas pessoas, fora do contexto clínico, saibam o que significa. Já ouviu falar na Teoria da Mente? Tem alguma ideia do que possa ser?

O QUE É A TEORIA DA MENTE?

  • A Cognição Social refere-se à nossa capacidade de gerir as nossas relações sociais sendo a Teoria da Mente um importante componente. A Teoria da Mente, como o próprio nome sugere, trata-se da capacidade do indivíduo de atribuir e interpretar desejos, crenças e emoções em si e nos outros. Ela desempenha um papel fundamental no ajustamento social das pessoas sendo responsável pela ampliação das competências de comunicação entre as pessoas. Parece-lhe estranha essa habilidade? Como uma pessoa pode saber o que a outra está a pensar ou sentir? Fazemos isso o tempo todo, sem perceber, pois, trata-se de uma capacidade natural e automática do ser humano. Porém, nas pessoas com PEA, essa habilidade está em atraso ou prejudicada, interferindo na qualidade das relações interpessoais que a pessoa estabelece.

QUAL A FUNÇÃO DA TEORIA DA MENTE?

  •  Essa capacidade permite ao indivíduo compreender o ambiente social e ter comportamentos sociais adequados. É fundamental para a interação social (para explicar e predizer as ações dos outros), para a comunicação (para aceder ao estado de conhecimento do outro e para compreender mensagens) e para a narrativa (para compreender os motivos, intenções, desejos e crenças das outras pessoas). Ela permite ao ser humano se envolver em interações sociais complexas.

COMO ACONTECE E COMO ESTIMULAR?

  • Inclui a capacidade de compreender o pensamento e o comportamento do outro através de pistas como a expressão facial, contacto ocular, postura corporal, gestos bem como fatores linguísticos sociais (entoação e conteúdo social do discurso). Embora seja inato ao ser humano, o desenvolvimento da Teoria da Mente também está associado às vivências afetivas e sociais na primeira infância, e é um marco no desenvolvimento sócio-cognitivo infantil. As crianças devem, desde bem cedo, ser expostas a estas experiências e beneficiam-se de situações nas quais o adulto fala sobre pensamentos, desejos e sentimentos, de si e do outro. Mostrar para os miúdos que os amigos e os próprios pais pensam, sentem e, por sua vez, têm comportamentos diferentes dos seus, é muito importante para que essas capacidades socioemocionais se desenvolvam adequadamente.
  • A Teoria da Mente está muito associada ao conceito de empatia. Quando sentimos a dor e o sofrimento das outras pessoas, acabamos por desenvolver comportamentos pró-sociais de forma a reduzir os sentimentos negativos em nós e no outro. Estes comportamentos estão intimamente relacionados com a Teoria da Mente, pois são dirigidos para o futuro e pressupõe a antecipação de um estado mental. Estes comportamentos estão presentes quando a criança começa a identificar as suas próprias emoções e separa-as dos outros, começando a demonstrar preocupação. Pensa-se que o desenvolvimento de competências cognitivas socialmente relevantes faz com que a criança reaja de forma empática a emoções expressas pelo outro. Défices desta competência levam ao egocentrismo e, desta forma, o indivíduo não é capaz de ter em consideração as diferentes perspetivas dos outros e, que estas podem ser diferentes da dele.
  • Além da própria família e escola poderem estimular as habilidades pró-sociais e, consequentemente, a Teoria da Mente, caso haja um quadro de atraso ou prejuízo importante, há a necessidade de ajuda profissional, e um psicólogo pode auxiliar tanto a criança como orientar pais e professores.

VALE RESSALTAR:

  • Atraso ou prejuízos na Teoria da Mente ocorrem não apenas nas pessoas com PEA, mas em outros transtornos do neurodesenvolvimento, bem como em quadros de depressão, ansiedade, esquizofrenia, em crianças e em adultos.

Bom final de semana e que a leitura seja útil!

Referência bibliográfica:

Transtorno do Espectro autista na prática clínica/ Annelise Júlio-Costa e Andressa Moreira Antunes. São Paulo: Pearson Clinical Brasil, 2017.



Este artigo é da autoria da nossa querida convidada: Viviane Balero Landis – psicóloga e neuropsicóloga (vivianebaleronp@gmail.com). Descobre mais sobre ela em: https://www.instagram.com/viviane.landis/?hl=pt 😉

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